Foi no passado dia 25 de janeiro que, na sede da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, se realizou uma cerimónia de homenagem à vida e obra do Dr Francisco Alvim por ocasião do centenário do seu nascimento. Como foi sublinhado o Dr Alvim, sócio fundador da SPP e primeiro director da nossa Revista foi a pedra angular na implantação da Psicanálise em Portugal. À medida em que fui ouvindo os oradores da noite, nas pessoas da Dra Maria José Gonçalves e da Dra Maria Fernanda Alexandre, dei comigo a pensar que é na memória dos vivos que os mortos confiam o seu legado. Enquanto formos recordados, afectuosamente embalados na memória de alguém, continuaremos vivos no pensamento de quem nos pensa. Esse meu sentir foi sucessivamente confirmado pelas intervenções, empáticas e afectuosas, de alguns dos seus analisados presentes, o Dr Emilio Salgueiro e a Dra Maria do Carmo Sousa Lima entre outros. Fui recordando episódios, distantes no tempo mas não no afecto, do início da minha análise com o nosso homenageado, aí por meados de 1962. O consultório do Dr. Alvim era, na altura, na rua Padre António Vieira que veio a ser, depois da mudança para a rua de S. Felix, o consultório do Dr João dos Santos, igualmente sócio fundador da nossa Sociedade e o grande pedopsiquiatra que todos conhecemos. Já na rua de S. Felix, passei a cruzar-me com outros analisandos que acabei por conhecer pessoalmente. Entre eles a Maria Antonieta Palmeira que, infelizmente, há muito nos deixou. Sabia que Maria Antonieta era médica e tinha trabalhado como anestesista por isso um dia perguntei- lhe o que é que a tinha feito abandonar a anterior profissão para se tornar psicanalista. A resposta foi uma frase certeira que nunca mais esqueci: “porque gosto mais de manter as pessoas acordadas do que as por a dormir”. “Manter as pessoas acordadas”, pois é esta sua bela definição da função da psicanálise que agora partilho em jeito de grata homenagem.
Do final dos anos 60 guardo também recordações do Dr. José Flores, da Dra Maria Alice Malva do Vale e de seu marido o Dr. Orlando Santos, o primeiro casal de psicanalistas que conheci, todos precocemente desaparecidos. E também da Dra Teresa Ferreira, pedopsiquiatra, falecida em 2002, que tão estreitamente trabalhou com o meu irmão João ele próprio falecido em outubro de 2015.
Por fim não posso, nem quero, deixar de destacar aqui a vida e a obra de outro grande psicanalista português, apenas 2 anos mais jovem que Francisco Alvim e que faleceu em 1991, o Dr. Eduardo Luís Cortesão. Médico psiquiatra foi na Argentina e no Reino Unido que fez a sua formação de psicanalista. Professor universitário, Eduardo Luís Cortesão introduziu e fomentou a grupanálise entre nós. Amigo da minha família tive o grande privilégio de com ele privar.
Ficam as recordações dos afectos e das relações partilhadas enquanto houver alguém que as guarde na memória. É pouco e é muito porque tudo o mais é silêncio.
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