Realizou-se em Florença, de 3 a 6 de Maio, a “13ª International Sandor Ferenczi Conference – Ferenczi in Our Time and A Renaissance of Psychoanalysis”.
O Congresso proporcionou um encontro intensivo com Ferenczi e a sua história, a relação de paciente – analista e de discípulo – mestre com Freud e a relação conturbada, pessoal e epistolar que ambos mantiveram ao longo de 25 anos. Também os seus pacientes, o diário clínico e a paciente especial Elizabeth Severn com a qual fez a experiência revolucionária e arriscada da psicanálise mútua.
Destacaria, nestes temas, a comunicação de Judith Vida com o título “The Blood Crisis: A Choice Between Dying and Rearranging” que falou da sua própria “blood crisis”, numa exposição pessoal comovente que originou um longo aplauso da audiência.
Num outro registo a comunicação do atual presidente da “International Sándor Ferenczi Network”, Carlo Bonomi, com o título “Ferenczi: Heir of Freud and Dissident. A Personal View”, transmitiu uma visão admirável de Ferenczi e dos seus contributos para a teoria, a técnica e a clínica psicanalítica, que considerou extremamente inovadores. Abordou os diferendos com Freud, referindo-se aos caracteres opostos dos dois homens – o cerebral Freud face ao afetivo Ferenczi – e as diferenças das suas perspectivas.
Outros temas presentes: o interesse clínico de Ferenczi pelo alargamento da psicanálise a pacientes considerados não analisáveis, a reconsideração do trauma como real, o valor da contratransferência, a importância do reconhecimento dos seus erros por parte do analista e a necessidade de existir na análise uma experiência emocional partilhada entre analista e paciente.
Finalmente um grande conjunto de comunicações abordou aspectos que na psicanálise atual podem ser ligados às ideias de Ferenczi, nomeadamente desenvolvimentos das teorias das relações de objecto, da psicanálise relacional e das teorias do campo.
Durante as horas de almoço ocorreu o evento “Meet the author” onde houve a oportunidade de conversar com autores de obras relacionadas com os temas do congresso.
De destacar o elevado número de participantes de língua portuguesa, com predomínio de colegas brasileiros. De Portugal e da Sociedade Portuguesa de Psicanálise duas pessoas apresentaram comunicações:
Csonghor Juhos, em coautoria com Judith Mészáros, apresentou a comunicação “Psychoanalytical Psychotherapy and Its Supervision Via Skype: Experience, Questions and Dilemmas”. A participação de Csonghor foi apoiada por uma bolsa do Instituto de Psicanálise. Conceição Tavares de Almeida apresentou a comunicação “From Trauma to Fantasy: The Renaissance of the Self”. A conferência decorreu no espaço do “Convitto della Calza”, no Oltrarno, bairro da margem esquerda do Arno, onde Florença é mais calma, sem deixar de ser bela e quase nos podemos abstrair das multidões de turistas que cruzam incessantemente os bairros do centro.
Tal como Florença, na sua monumentalidade ancestral, tem o poder de nos transportar através do nosso próprio desenvolvimento enquanto membros da cultura da europa e do mundo, este Congresso transportou-nos por uma parte importante da história e do desenvolvimento da psicanálise que merece o “renascimento” referido no título.
Fotografia: Isabel Prata Duarte
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